terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

A Dor e as suas Consequências nas Portadoras de Endometriose



Olá!!! Conforme publicamos, no final do mês de setembro, aconteceu em Salvador/BA o 10° Congresso Brasileiro de Dor, que contou com a participação de médicos das mais diversas áreas bem como profissionais da saúde que trabalham com essa temática. E o GAPENDI, lógico, esteve presente nesse evento!!

Eu, particularmente, fiquei extremamente curiosa ao ver na programação uma mesa destinada para Dor Pélvica Crônica. Ao mesmo tempo ansiosa sobre como eles iriam focar e abordar esse tema tão amplo e, principalmente, se iam focar a Endometriose como uma das causadoras da dor pélvica!! Para minha felicidade, a Endometriose acabou sendo bastante focada nessa mesa! Incluindo a importância do diagnostico precoce e como deve ser feito esse diagnostico, bem como as dores decorrente da doença que  podem interferir no cotidiano da portadora.

DOR



A dor é uma sensação desagradável, um sinal de alerta do nosso organismo, o qual pode indicar dano, doença ou perigo! Segundo a International Association for the Study of Pain (IASP) a dor é experiência sensitiva e emocional desagradável associada ou relacionada a lesão real ou potencial dos tecidos. Cada indivíduo aprende a utilizar esse termo através das suas experiencias anteriores.  
Além de gerar estresses físicos e emocionais para o doente e para seus cuidadores, a dor é a razão de fardo econômico e social para a sociedade. (Prof. Dr. Manoel Jacobsem Teixeira - Neurocirurgião, Faculdade de Medicina da USP).

-        COMO A DOR SURGE?


Quando há um estimulo de intensidade maior do que a que suportamos, por meio de células especiais chamadas de Nociceptores, a dor é detectada e transmitida através de fibras nervosas até o Sistema Nervoso Central, chegando até a membrana que reveste o cérebro, chamada de Meninge.
É essa membrana que recebe a dor, já que o cérebro não aguentaria tamanha sensação por ser um órgão de fundamental importância para a vida. 
Quando a dor chega a essa membrana, ela atinge duas partes distintas: uma que é responsável por localizar a dor e a que está relacionada à sensação da dor.

As fibras nervosas que transportam a dor pelo nosso corpo, às vezes, podem não funcionar corretamente provocando o que chamamos  de dor crônica. Em algumas situações, quando existe lesão dos nervos, essas fibras podem provocar dor de forma anormal, ou seja, um simples carinho como abraço, uma caminhada a mais, alguma determinada posição podem provocar a dor intensa.

 O QUE É A DOR CRÔNICA?

A dor pode ser dividida em dois tipos:

·  Aguda: é aquela com curto período de tempo, geralmente não passa de três meses.  É facilmente identificada e o corpo usa ela como sinal de alerta para infecção e inflamação. Exemplos: Dismenorreia primariador de dente.

·  Crônica: é aquela que ocorre por um período superior a três meses, ou quando persiste por um tempo maior que o esperado após a ocorrência de uma lesão. Pode debilitar e exige maior atenção por parte de quem está sentindo. Exemplo: Artrites, Endometriose.

E pode ser classificada como:

·  Somática: é aquela que tem origem em ossos, ligamentos e/ou tendões; gerando uma dor mal localizada e de longa duração.

·  Visceral: localizada em órgãos e cavidades internas do corpo, trazendo uma sensação intensa de dor e difícil de localizar. Muitas vezes o paciente sente dores em regiões totalmente diferentes do verdadeiro local da lesão. Exemplo: no ataque cardíaco, a pessoa pode sentir dores nos ombros, estomago e braço.

·  Cutânea: localizada e de curta duração, como queimaduras de primeiro grau e/ou cortes.


A Dor Pélvica Crônica não se restringe apenas às dores dos órgãos internos, como ovários, útero e intestino; podem envolver também ossos, músculos e nervos da parte inferior do corpo humano; e pode ser provocada por:

· Causas Intestinais: Síndrome do Intestino Irritável, Doença Inflamatória Intestinal, Hérnias, Doença Diverticular, Constipação Crônica;
·  Causas Urinárias: Cistite Intersticial, Infecção Urinária Crônica, Cistite Actínica, Síndrome Uretral;
·  Causas Ginecológicas: Endometriose, Doença Inflamatória Pélvica, Massas Pélvicas e Anexiais, Aderências, Adenomiose;
· Causas Músculo-Esqueléticas: Síndrome Miofascial, Espasmo da Musculatura do Assoalho Pélvico.


-        DOR CRÔNICA PÉLVICA X ENDOMETRIOSE

A maioria dos casos de dor crônica pélvica nas mulheres são causados pela Endometriose. Seja por conta dos focos ativos da doença ou decorrente das alterações nos tecidos referentes ao processo aderências e fibrose. No caso dos focos ativos da doença, os implantes de endometriose causam uma reação inflamatória que irritam as terminações nervosas ocasionando a dor. Já a presença de aderências pélvicas e número de intervenções cirúrgicas ajudam a piorar os sintomas nessas mulheres.  Por isso é tão importante ser acompanhada por um especialista na doença, evitando assim cirurgias desnecessárias. As aderências, como já foram explicadas aqui no blog, são como cicatrizes internas que se formam após inflamações ou cirurgias passadas. Essas cicatrizes fazem com que os órgãos fiquem unidos uns aos outros, provocando estiramento, compressão e, consequentemente, dor.

A dor causada pela Endometriose costuma ser debilitante e se apresenta como cólica intensa, dor em forma de pontada, fisgada, queimação, peso. Quase sempre constante, se apresenta durante o ciclo menstrual ou até mesmo fora dele, provoca a irritação da portadora, podendo levar ao pavor só por  imaginar que pode senti-la novamente. Essa dor implica num declínio da qualidade de vida e produtiva/laboral da mulher.  Interessante falar que geralmente a portadora de endometriose, em virtude das dores constantes, acaba desenvolvendo não apenas a dor ginecológica ou visceral, mas também a dor músculo-esquelética ou dor somática.  Por isso a importância do ginecologista especialista em endometriose ficar atento para isso, pois muitas vezes se submete a paciente a constantes cirurgias em virtude das dores intensas quando na verdade a dor já se transformou em neuropática.

A dor pélvica crônica, acompanhada ou não de formigamento, em parede abdominal, membros inferiores e genitália externa, pode sugerir o comprometimento de nervos e/ou raízes nervosas.

A endometriose pode acometer nervos pélvicos, comprimindo-os ou lesionando, caracterizando a endometriose nos nervos cujo exames como ressonância magnética e ultrassonografia não conseguem diagnosticar com precisão, necessitando de maior atenção dos ginecologistas para a sintomatologia e possivelmente para um encaminhamento para outro profissional especialista nessa abordagem. 

Fibrose (nódulo) em N. Hipogástrico esquerdo antes da cirurgia terminar





A endometriose nos nervos, não é muito freqüente, e pode ocasionar dores intensas nas pernas e na região glútea, bem como alterações urinárias e intestinais.  O nervo é como um fio de luz que, se desencapado, pode dá choques, então a dor é caracterizada por ser intensa e incapacitante, geralmente em forma de choques, queimação, irradiação, caimbrãs e dormência. Em alguns casos pode haver perda de força nos membros inferiores, forte desejo urinário e evacuatório. Muitas vezes a mulher sente muita vontade de ir ao banheiro e vai por diversas vezes, sentindo fortes dores, porém o conteúdo é muito pouco.
Esses sintomas se assemelham a outras doenças com origem nos nervos. Devendo ser investigada a presença de outras patologias para um diagnóstico mais efetivo.

Por falar em nervos, uma curiosidade que eu matei nesse congresso em relação à algumas portadoras sentirem mais dores que as outras foi sanado. A resposta é justamente a proximidade dos implantes com os nervos. Segundo os congressistas, a pesquisa realizada por dr. Mauricio Abrão, mostrou que as porcentagens de mulheres com implantes profundos em áreas bastante inervadas sentem mais dores que as mulheres com outros tipos de implantes de endométrio. Outra coisa interessante também é que implantes mais velho têm maior chance de ser infiltrado por nervos, o que geraria mais dor.

Outro fator que pode levar a dor crônica pélvica são os espasmos dolorosos dos músculos do assoalho pélvico (levantadores do ânus: pubococcígeos, puborretais e iliococcígeos; coccígeos; piriformes e obturadores internos) ou as disfunções no assoalho pélvico, que podem ser lesionados ou estarem fadigados devido a endometriose, aderências e fibrose; ocasionando fortes e intensas dores. Esses espasmos ou disfunção no assoalho pélvico podem causar também o que chamamos de dispareunia, dor na relação sexual. Motivo de muito sofrimento para os casais, especialmente as mulheres; além da incontinência urinária e fecal. 

Nesse caso, a fisioterapia uroginecológica entra para ajudar nesse processo, com eletro-estimulação, massagem do tecido conjuntivo e a cinesioterapia, ou seja, exercícios. Bem como bloqueios anestésico locais, realizados pela equipe da medicina/clinica da dor, ou acupunturas. Em outro post, vamos focar a função, a importância e os benefícios da fisioterapia uroginecológica e da Medicina da dor em pacientes com endometriose.

Conseqüências da dor no cotidiano da portadora

Como já dissemos, as mulheres que sofrem com a dor crônica provocada pela endometriose tem a qualidade de vida abalada, visto que esta implica no bem estar físico, mental, psicológico e emocional do individuo com si próprio, bem como com a família, trabalho, amigos. É comum que mulheres que sofrem de dores constantes por conta da endometriose se afastem dos amigos e familiares por vergonha ou por estarem sempre com dores intensas, causando a privação das  atividades sociais/lazer. Quase sempre, por esse mesmo motivo, são os amigos e familiares que a excluem. O mal provocado pela dor é tao grande, que está acaba se tornando o fator mais importante do seu dia a dia.

Ausências no trabalho, atestados médicos, suspeitas ou dúvidas dos colegas de trabalho e chefes são situações constantes no cotidiano de algumas portadoras e que, também, acarretam em grande sofrimento. Muitas vezes para evitarem ouvir os comentários desagradáveis dos colegas e chefes, bem como para não perderem o trabalho por conta das faltas, muitas mulheres vão trabalhar com dores intensas, o que pode implicar na diminuição do desempenho deste.

Muitas sofrem por terem que fazer uso de medicações fortes diariamente e terem que lidar com os efeitos colaterais das mesmas; bem como com as complicações dessa dor nas atividades laborais. Os remédios exercem funções semelhantes a da endorfina, que são substancias produzidas no cérebro com a função de aliviar sentimento de dor funcionando como analgésico natural atrapalhando assim a comunicação entre os transmissores e receptores. Podemos liberar a endorfina através de atividades físicas! Quando a endorfina fabricada pelo nosso organismo não consegue aliviar a nossa dor, é necessário entrar com medicação.  

A atividade física acaba se tornando nossa grande aliada, não só por liberar a endorfina mas porque ela ajuda a queimar as famosas gordurinhas do nosso corpo que também são responsáveis pela produção do estrogênio, que quando em excesso acaba se tornando o nosso grande vilão. 



Alterações psicológicas como aumento da irritabilidade, ansiedade, depressão, preocupação com o corpo e afastamento dos interesses externos são queixas comuns nas pacientes que sofrem com as dores causadas pela endometriose.  
A insônia, diminuição do desejo sexual e alteração do apetite também pode ser frequente. A dor exerce influência negativa na auto-estima e pode afetar a capacidade de uma pessoa realizar tarefas associadas à vida diária , ao trabalho e à sua função como parte da sociedade.  


Conclusão

Nesse post retratamos a dor física e as suas conseqüências no cotidiano de uma mulher portadora de endometriose. Porém não podemos deixar de lado algumas dores, as quais classificamos como dores na alma e/ou emocionais, que também interferem muito na nossa qualidade de vida. Como exemplo, temos as dores provocadas pela Infertilidade. Esse tema já foi assunto algumas vezes aqui no nosso blog mas voltaremos a abordá-lo nos próximos post´s.

Pra finalizar, deixo com vocês esse texto escrito por Fernanda de Marins Garcia de Souza, onde ela descreve muito bem como é viver com dor. Acredito que muitas de nós se identifiquem com essas palavras!!


Marília Gabriela Rodrigues

Viver com Dor.

Texto de Fernanda de Marins Garcia de Souza

Ninguém nunca planeja sua história pensando em vivê-la com dor. Na verdade, a dor é sempre uma intrusa na vida de qualquer pessoa. Ela aparece, irr
ita, apavora, faz com que se procure ajuda, é tratada e acaba, vai embora... Algumas vezes leva com ela todo o dinheiro que se tinha, mas vai embora.

Porém existe um grupo nada pequeno de indivíduos que vivencia a dor de forma completamente diferente. Para eles, a dor aparece, irrita, apavora, faz com que se procure ajuda, é tratada, (algumas vezes) melhora e fica e aumenta e faz com que se procure socorro, e fica, fica, fica. Simplesmente fica! Fica durante os dias úteis, nos fins de semana, dias santos, período de férias, festas familiares... Fica durante os dias e durante as noites, por vezes até mesmo nos sonhos (para os felizes que conseguem dormir). Fica nos meses quentes e ainda ganha mais força nos meses frios. Fica!

Então as pessoas que pertencem ao grupo dos comumente doloridos começam a se cansar. Cansar de sentir dores e, o que chega a ser pior, cansar de ter de provar para os outros (familiares, chefias, peritos, e, por mais incrível que pareça, médicos) que sentem dor. Cansados, os doloridos se isolam, trancam-se em suas casas em companhia apenas dessa intrusa mais irritante do que uma mosca em dia de verão.

Desse ponto em diante, fecha-se o diagnóstico: os doloridos estão deprimidos e tudo o que sentem é psicossomático. Estão doentes porque querem, porque não têm força de vontade para reagir, porque são fracos, se acovardam frente às dificuldades da vida. Entregaram-se e preferem se esconder atrás da dor a ter que enfrentá-la.

Simples assim! A vítima passa à vilã, a algoz vira esconderijo e os felizardos que têm o privilégio de não saber o que é dormir e acordar, rotineiramente, com dor assumem o papel de juiz. Pronto. Agora que tudo está resolvido, a história continua: O portador da dor crônica sofre diariamente, calado porque muitas vezes não tem forças nem para reclamar, enquanto que os demais sempre que sentem algum incômodo doloroso se irritam, se apavoram, procuram ajuda, se tratam, ficam novamente saudáveis.

Diz um ditado popular que só conhece a quentura da panela a colher que a está mexendo. A brilhante sabedoria popular se aplica ao tipo de sobrevivência dos que vivem com dor crônica. Só quem sofre na "quentura dessa panela" consegue entender o mau humor, a aparente tristeza e impaciência de seus companheiros.

Porém, não é preciso que você se torne um de nós para que seja capaz de se solidarizar conosco. Basta que, no dia em que sentir uma dor chata e insistente, você imagine como seria sua vida se ela decidisse viver constantemente ao seu lado, como uma intrusa e insuportável companheira.

Não gostou de se imaginar nessa situação? Não tem problema, para você isso é só uma imaginação...




19 comentários:

  1. Parabéns pelo texto e pela divulgação desta importante informação!

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  2. Muito bom o texto, falou bastante do que sentimos! Pena q muitos profissionais ainda nao estejam capacitados pra lidar com essa doença...

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    1. Que bom que gostou, Paula!!! Como texto foi escrito por uma portadora, acredito que a linguagem ficou bem legal!!

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  3. otimo texto mto claro. a minha dor como nunca passa meu medico pediu uma colonoscopia vou fazer amanha.

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  4. adorei o txto mto bom, devido essa dor chata vov fazer amanha uma colonoscopia.

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  5. Lindo texto! Emocionante para quem sabe exatamente o que a autora esta descrevendo, expressando um sofrimento em simples e exatas palavras. Deixo meu carinho e abraço a quem seu preocupou em compartilhar isso com nós Portadoras, Tentantes (site: Diário da Tentante - pra quem não conhece), sobreviventes do sofrimento um dia de cada vez: "ontem foi bom, hoje esta mais ou menos, já amanhã poderá ser pior"! Beijo a todas.

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  6. Exatamente assim, a gente sofre tanto preconceito, piadinhas no trabalho, pior que tenho tenho ainda que conviver com crises de enxaqueca, outra que dizem que eh frescura, mesmo eu indo baixar na e,emergencia e faxer tratamento a anos... Triste mesmo ser vitima de tanta discriminacao e preconceito.... Ainda bem que sou concursada, se nao.....

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  7. Meu nome é Luciene, texto excelente só nós portadoras entendemos que dor é essa que muitas vezes escutamos: nossa com cólicas de novo escutar isso da família machuca.

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  8. Nossa descobri desde Janeiro de 2013 que tenho endometriose, sinto uma dor na perna já tem 1 ano e já fiz tudo quanto é exames e nenhum médico sabe me dizer o que é. Já to cansada de sentir dor todos os dias e pelo que eu li na matéria é bem o que eu sinto nas minhas pernas. Por favor me ajuda, me indica um médico aqui em Brasília para que eu possa fazer um tratamento urgente.

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  9. Infelizmente sofremos muito e só quem sabe é que sente tamanha dor.

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  10. Tudo que sinto diariamente...dor que doí na alma, principalmente por não ser entendida e até mesmo respeitada.

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