segunda-feira, 26 de novembro de 2012

ENDOMETRIOSE NO NERVO E A NEUROPELVIOLOGIA

Olá a todos! Hoje vamos falar um pouco sobre um tipo de endometriose que pode acometer os nervos. Para isto, contamos com a colaboração do médico ginecologista Dr. Nucélio Lemos, responsável pelo ambulatório de Neurodisfunção Pélvica da UNIFESP, que gentilmente nos cedeu alguns textos para publicarmos nesta postagem.

Agradecemos desde já ao Dr. Nucélio e esperamos que este texto possa tirar muitas dúvidas que sempre surgem a respeito deste tema. 

Segue o artigo:



"Importante causa de dor pélvica crônica e esterilidade, a endometriose é uma doença relacionada ao endométrio, o tecido que reveste a parte interna do útero. 

Com atividade controlada pela ação dos hormônios femininos, as células do endométrio se multiplicam para servir de suporte da gestação, oferecendo as condições necessárias para a implantação do embrião e formação da placenta. Caso a gestação não aconteça, o tecido descama e é expelido pelo organismo em forma de fluxo menstrual. Começa, então, um novo ciclo.

Há casos em que o endométrio se desenvolve fora do útero, nas cavidades pélvica ou abdominal, ou acometendo órgãos como trompas, ovários, intestinos ou bexiga, caracterizando a endometriose. Este tecido passa a ser estimulado mensalmente, da mesma maneira que o tecido de dentro do útero, pelos hormônios femininos. Assim, mensalmente se espessam e sangram, podendo infiltrar e provocar aderências entre as estruturas vizinhas, prejudicando a função dos órgãos acometidos e causando dor pélvica crônica. A inflamação e as aderências geradas pela endometriose podem levar à infertilidade.

A endometriose pode acometer as pacientes de diferentes formas, em diferentes regiões do corpo. Por este motivo, diversos podem ser os sintomas. Contínuos ou intermitentes e de intensidade variável, os sintomas e sinais geralmente apresentam piora durante o período perimenstrual.

O diagnóstico e estadiamento da endometriose já pode ser feito por meio da ressonância magnética e ultrassonografia transvaginal com preparo de intestino, realizadas por um radiologista especializado e capacitado no diagnóstico da endometriose. O diagnóstico definitivo é feito pela biópsia por laparoscopia.


  • A Endometriose nos nervos


A endometriose é uma doença benigna; porém, apresenta uma característica invasora semelhante ao câncer do colo do útero, se disseminando por toda a pelve e, às vezes, por porções mais distantes do organismo. 

Entre as estruturas que a endometriose costuma invadir ou comprimir estão os nervos pélvicos. Ocorre, que ainda não se sabe diagnosticar a infiltração dos nervos pélvicos por meio da ressonância magnética nem da ultrassonografia; assim, a dor nas pernas ou na região glútea e as alterações urinárias e intestinais decorrentes da invasão nervosa raramente são creditadas à endometriose. Por meio das técnicas diagnósticas e cirúrgicas da neuropelveologia, é possível tratar por completo a endometriose que invade ou envolve os nervos.

A primeira vez em que se constatou a invasão por endometriose no nervo ciático aconteceu em 1955. De lá para cá, a invasão por endometriose já foi verificada em praticamente todos os nervos do plexo sacral (nervos que saem da coluna vertebral em direção a pelve, pernas e pés), bem como nos nervos obturador e pudendo. As consequências variam conforme o nervo acometido.


  • Sintomas 

Os sintomas do acometimento de nervos pela endometriose são: dor em cãibra, choque ou queimação com irradiação para a região glútea ou para as pernas; sensação de forte desejo evacuatório ou urinário, mesmo na ausência de urina ou fezes na bexiga e no reto; sensação de perda urinária iminente, mesmo com pequenas quantidades de urina na bexiga; dor ou desconforto à evacuação; incontinência urinária e anal e dificuldade de se locomover. Esses sintomas podem ser constantes ou aparecer somente no período menstrual. 

É muito importante relatar ao médico a ocorrência frequente desses sintomas durante o período menstrual já que eles sugerem que a endometriose esteja atingindo nervos e requer investigação por meio de avaliação neurofuncional pélvica. Neste caso, é necessária a cirurgia neurofuncional para remover essas lesões.

  • Cirurgia 

Ainda, caso a endometriose esteja invadindo a região do septo retovaginal, é essencial que a cirurgia seja feita com laparoscopia de alta definição e neuroestimulação intra-operatória, no intuito de preservar os nervos da bexiga e do reto, que têm alto risco de lesão em cirurgias para tratamento da endometriose.

Devido à tendência a se desenvolver próximo aos nervos pélvicos, característica da endometriose, muitas vezes ocorre lesão inadvertida dos mesmos durante a cirurgia. Isso pode causar paralisia da bexiga ou diminuição da sua capacidade de eliminar urina, às vezes levando à necessidade de sondagem para esvaziar a bexiga. O mesmo pode acontecer com o reto. Em alguns destes casos de sequelas cirúrgicas, pode-se tentar implantar um neuroestimulador, para "sobrecarregar" as fibras nervosas remanescentes, no intuito de devolver, ao menos em parte, o controle sobre as funções urinária e evacuatória.

Além disso, mesmo após a remoção completa da endometriose, o próprio processo de cicatrização pode levar ao surgimento de novos vasos sanguíneos ou fibrose, comprimindo os nervos ou raízes sacrais, resultando em novas dores. Tanto a remoção da endometriose remanescente, quanto da fibrose e dos vasos neoformados sobre os nervos da pelve podem ser realizadas por meio de técnicas da neuropelveologia.

  • Contribuição da neuropelveologia para as pacientes com endometriose 

A neuropelveologia pode ajudar as pacientes com endometriose de três maneiras:

1. a primeira, já citada acima, é permitindo o tratamento da endometriose que acomete os nervos pélvicos;

2. a segunda é pela prevenção da lesão dos nervos que acometem a bexiga durante a retirada de lesões que se encontrem nas proximidades desses nervos;

3. a terceira é a reabilitação de pacientes que tiveram as funções urinária e evacuatória por uma cirurgia pélvica prévia, para tratamento da endometriose ou de outras doenças pélvicas.

Quando realizada por técnicas laparoscópicas tradicionais, o tratamento radical da endometriose infiltrativa pode causar lesões nervosas importantes em cerca de 5% dos casos, com perda da capacidade de contração e eliminação de urina da musculatura da bexiga, que perde o controle nervoso. Os casos com maior risco de lesão nervosa são os casos em que o nódulo se encontra mais baixo, na vagina, no reto ou no septo retovaginal. A preservação nervosa no tratamento cirúrgico da endometriose é realizada por meio de uma técnica especial para evitar a lesão inadvertida desses nervos, denominada Laparoscopic Neuronavigation (LANN Technique). Com esta técnica, o risco de alterações vesicais por lesão nervosa cai para menos que 1%. 

No caso de pacientes que já sofreram lesão dos nervos por um procedimento cirúrgico radical e ficaram com problemas urinários, fecais há a opção do implante de um neuroestimulador, que por meio de "sobrecarrega" dos nervos restantes, tentará devolver a contração da bexiga."



Dr. Nucelio Lemos, Coordenador científico do site Neurodisfunção Pélvica.Graduado pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo em 2003. Concluiu o Doutorado em Medicina, área de concentração em Tocoginecologia, nesta mesma instituição em 2008. Cursou Fellowship em Neurodisfunções Pélvicas pela International School of Neuropelveology, na Klinik Hirslanden, Zurique, Suíça. O Setor de Neurodisfunções Pélvicas é coordenado pelo Dr. Nucélio que, desde 2010 desenvolve seu Pós-Doutorado em Ginecologia na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), com as linhas de pesquisa "Diagnóstico e Tratamento das Neurodisfunções Pélvicas, Disfunções do Assoalho Pélvico e da Dor Pélvica



Para exemplificar, abaixo publicamos um vídeo que conta a história de uma paciente que apresentava Endometriose no Nervo Ciático. Esta história foi contada pelo canal Discovery. 








Edição- Marília Gabriela Rodrigues

Um comentário:

  1. Me chamo Lucileide,eu tive endometriose no intestino e na vagina,sentia dores fortes e intensas,tive que fazer a cirurgia para tirar os focos de endometriose no reto e na vagina,pois o nódulo estava enorme,sofrir muito,pois minha cirúrgia complicou os pontos do entestino romperam por dentro,peguei duas infecçoes generalizadas e usei bolsa de colostomia,fiquei sete dias na uti e 26 dias no hospital,em fim graças ao meu bom Deus agora estou bem,que doença maldita meu Deus.

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